domingo, 30 de novembro de 2008

Amor e humor na família


Osmar Ludovico*

Existe o amor romântico, a paixão, o sentimento. Este é volúvel, progride e regride velozmente, basta uma pequena mudança de atitude. Mas existe também o amor compromisso, que envolve a fidelidade e a estabilidade. O primeiro age nas nossas emoções; o segundo na nossa vontade. O amor inclui a emoção que faz palpitar o coração apaixonado e a vontade que segura o voto de permanecer unidos haja o que houver.

Somos emocionalmente instáveis, por isso nos estranhamos, nos irritamos, brigamos e acabamos cada qual no seu canto, nos sentindo incompreendidos e mal amados. A vontade e o voto nos chamam de volta à reconciliação através do perdão, nesta permanente dança do encontro-desencontro-reencontro.

O desejo de permanecer junto, apesar das diferenças e dos conflitos, nos livra de nos tornar desafeiçoados e vingativos. Permite, ao contrário, que, mesmo feridos, continuemos desejando o bem do outro e agindo de forma construtiva. Isto é, nos convida ao processo contínuo de nos re-apaixonarmos pela mesma pessoa muitas vezes ao longo de uma vida toda.

Deus nos revela seu amor, primeiro nos aceitando como somos e agindo sacrificialmente em nosso favor como diz as Escrituras: “Mas Deus prova seu amor para conosco, tendo Cristo morrido na cruz sendo nós ainda pecadores” (Rm 5.8). E também através de sua fidelidade sem limites, pois seu amor permanece estável mesmo quando não o correspondemos (1 Tm 2.13). Assim, ao longo da vida aprendemos a amar como Ele nos amou.

Mas o que seria do amor sem o bom humor? A base da vida cristã consiste e reside nesta alegria de alma, uma alegria que brota da interioridade, e não das circunstâncias. Uma celebração íntima, um regozijo inexplicável no profundo de nosso ser, uma doce, leve e alegre constatação de que vivemos diante da face amorosa de Deus, que nos perdoa, nos aceita, nos recebe em sua presença. E faz de nós, pecadores, seus filhos amados. Amar e ser amado é o glorioso destino do ser humano, e amar e ser amado por Deus e pelo seu semelhante é o ápice da aventura humana, de ser, de existir. É puro contentamento!

A alegria, nos conta Paulo, é fruto do Espírito Santo (Gl 5.22). Ou seja, a presença de Deus na nossa vida gera bom humor e rosto sorridente. Cara amarrada, levar-se muito a sério e mau humor evidenciam a ausência de Deus e a dificuldade e incapacidade de amar. Precisa de cura, de arrependimento e de um batismo de alegria. O humor inclui o lúdico. Os jogos, as brincadeiras e a descoberta da criança que está em nós, abafada por um pai severo e cobrador. Nossos filhos nos ajudam a reencontrar atrás do adulto, responsável e sério, o menino e a menina que sabem brincar. O bom humor nos convida à festa, a comemoração, e nos recorda que o primeiro milagre de Jesus foi fazer mais vinho para que uma festa de casamento não terminasse antes do tempo (Jo 2.1-12). Faz-nos lembrar, ainda, que perdoar é motivo de festa para o nosso Deus. Quando o pródigo volta para casa, o pai convoca toda a aldeia para dançar e comer churrasco (Lc 11.15-32).
A família é o lugar do perdão e da festa. A alegria da mesa, das férias, das saídas-surpresa, das datas festivas, da vida de oração, da vida sexual. A sexualidade humana se realiza, portanto, de forma plena e prazerosa nesta relação permeada por paixão, fidelidade, compromisso e bom humor. Aí surge o desejo da entrega mútua baseada na confiança e na ternura. E a vida sexual se torna plenitude de alegria e prazer. Dança misteriosa e poética de corpos que se unem, trocam inspiração, respiração e transpiração no jogo prazeroso de sensações agradáveis, o prazer sensorial.


Fomos criados para amar e ser amados, e Deus dá ao homem esta oportunidade e responsabilidade de se deixar conduzir por Ele no aprendizado ao longo da vida. De amar e ser amado – esta é a regra do casamento. Não é célula descartável, econômica, não é célula de proteção (máfia), não é célula reprodutiva. Mas um contexto para a aventura e o aprendizado de amar e ser amado, contexto este que possibilita a realização e a alegria do ser humano, ao nível mais profundo de sua existência.

*Osmar Ludovico é Diretor e mentor espiritual, dirige cursos de espiritualidade, revisão de vida e de pastoreio de pastores e missionários. Reside em Cabedelo, Paraíba.

Um comentário:

Anônimo disse...

Amiga, este blog está ficando cada vez melhor. Estas palavras não têm como não falar ao nosso coração.
Falar do amor de Deus, um amor ágape, indescritível, incomensurável, puro, aliando-o ao amor humano, limitado pela carne e pela paixão são assuntos que estamos sempre debatendo, não é?
Claro que não podemos comparar os 2 amores, digamos assim, apesar de estarmos sempre tentando.
Deus é demais, nos aceita como estamos, e nós, reles mortais, estamos sempre querendo mudar o outro. Estamos sempre atrás de um príncipe ou uma princesa encantados(as), ou seja, estamos sempre procurando alguém que nos ame e nos aceite como Deus o faz. Esta procura é e sempre será em vão, pois ninguém não ama mais e tão perfeitamente quanto Ele.